PREMISSAS III
TERCEIRA PAGINA
Vi um garoto estranho sentado sozinho num banco. De cabeça baixa escondia parcialmente seus olhos verdes entre seu cabelo vermelho. Sua face era pálida e a expressão vazia. Pareceu-me ter uns treze anos. Fiquei curioso e me aproximei dele. Seu nome era Lúcius. Tinha uma cicatriz acima dos olhos, que a principio o cabelo escondia. Ele era um menino de rua com a voz tenra que fazia doer o coração. Levei-o para minha casa, o tratei como um filho. Mas nada conseguia mudar a tristeza de sua face. Ele não tinha amigos e não falava muito. Carregava um crucifixo sempre ao peito. Jamais faltava a igreja. Eu tinha medo de entrar na igreja. Então ficava do lado de fora. Num dia de festival de adoração na igreja eu resolvi entrar. Logo que entrei fiquei tonto e desmaiei. Acordei em casa. Lúcius não estava em casa, por isso fui procurá-lo na rua. Encontrei-o num beco todo machucado cercado por cinco crianças imundas de rua. Senti tanto ódio que meu nariz começou a sangrar. Minha boca pedia o sangue deles. Saquei minha arma e os matei. Lúcius se levantou e tocou minha face. Eu senti como se estivesse no paraíso, logo cai. Acordei horas depois sem entender o que havia acontecido. Vi Lúcius dormindo e fui até a rua. Voltei ao caminho que fizera antes. Ao chegar ao beco me deparei com varias pessoas mortas. E por toda a rua se seguiam cadáveres podres como se estivessem lá há dias. Voltei correndo para casa. Quando cheguei vi Lúcius nu no quarto, ele me olhou e senti o meu corpo fraco. Perdi todo controle. Lúcius exalava um perfume doce, mas de morte. Deu-me um beijo e começou a devorar minha face. Eu não entendia nada. Veio-me a cabeça toda loucura que vivi. Logo minha dor passou. Senti como se estivesse livre do ódio. Ele se dizia um pleno. Um ser sem o toque de deus ou do demônio. Ele disse que se alimentou do meu ódio. Que estava comigo desde meus três anos. Quase inconsciente vi Lúcius com chifres e asas brancas. Rodeado de ratos e borboletas. Formigas vieram e me devoraram. Quase morri. Lúcius voltou e me beijou novamente. Senti imensa dor e ele entrou no meu corpo pela minha boca. Quando acordei havia voltado no tempo, no dia em que os assassinos iriam matar minha família. Mas algumas horas antes peguei a arma de meu pai. Esperei os assassinos e os matei na porta de casa. Assustei-me por não ouvir ruídos dentro de casa. Voltei correndo. Lúcius estava La. Ele matou minha família.
Tocou meu rosto e entrou no meu corpo.
Tinha de novo treze anos. Não tinha minha família. Mas tinha a experiência de um adulto. Um presente que Lúcius me deu. Aprendi a desfrutar o sangue.
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